Apesar de terem conceitos opostos, negligência e superproteção se igualam se considerados seus riscos para o desenvolvimento emocional, social e até físico dos pequenos. Pais superprotetores não só limitam as experiências do filho na tentativa de proibir tudo que possa pôr em risco sua integridade como prejudicam a sua autonomia ao assumir tarefas que o filho já teria condições de desempenhar.
O fato de que há cada vez mais famílias com filhos únicos e pais tardios piora esse quadro. Nessas circunstâncias, em muitos casos as crianças são aguardadas ansiosamente e vistas como um projeto no qual se exige demais que elas sejam bem preparadas e mais bem sucedidas para enfrentar o dia a dia de uma sociedade altamente competitiva. Ao mesmo tempo, o medo de que o filho sofra algum tipo de violência agrava a tendência paternal de impedi-lo de arriscar-se em situações normais da vida.
Para evitar esses exageros, é preciso buscar o bom senso, explica a psicóloga Graziela Sapienza, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Os pais devem proteger os filhos de situações estressantes e perigosas, porém é importante que os filhos passem por situações frustrantes e as superem com o apoio dos pais”, afirma.
Curso natural
A aprendizagem ao longo da vida ocorre por “tentativa e erro”, por meio de experiências e também de regras e limites externos. Nesse cenário, os pais que utilizam exclusivamente a terceira forma para ensinar os filhos devem ter em conta que, se seguir os conselhos ou ordens de outras pessoas pode diminuir a probabilidade de algo dar errado, este comportamento limita ao mesmo tempo as possibilidades de ação e criatividade. “Regras são importantes e devem fazer parte da educação, mas pais superprotetores tendem a usar apenas essa forma de ‘ensinar’, não permitindo que os filhos entrem em contato com as contingências ou aprendam na prática como se relacionar com o mundo”, diz a psicóloga Silvia Aparecida Fornazari, do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Os prejuízos dessa maneira de educar também atingem os pais. Próximo de uma criança superprotegida há geralmente um pai sobrecarregado e frustrado. “Se minha autoestima não está bem, arranjo uma desculpa não consciente para estar sempre de olho em meu filho e assim não prestar atenção às minhas necessidades e inseguranças”, exemplifica a psicóloga e terapeuta de família Carla Cramer. Confira nos quadros ao lado as consequências que uma educação superprotetora sobre as crianças e dicas das especialistas para reverter essa situação.